sábado, 23 de abril de 2011

Tratado Sobre o Fim - Parte VI

Decidi procurar outro emprego. Sempre cozinhei para mim, talvez fosse mais fácil arranjar um emprego de cozinheiro. Não consegui. Não tinha experiência. A pouco e pouco percebi que não iria conseguir encontrar um emprego do qual gostasse. 

Mas afinal do que é que eu gosto? 

Eu não tenho hobbies, não tenho interesses em especial. Tudo o que fiz até hoje foi por necessidade ou por condicionalismo ligados ao meu avô. Gosto de cozinhar porque tive de cozinhar para mim. Gosto de ler porque precisava de passar o tempo até poder entrar na visita. Não sei fazer mais nada. E se fosse continuar os estudos? Mas eu não tenho dinheiro para isso. Posso sempre pedir emprestado… A quem? À mãe? À avó? 

As únicas pessoas que entraram na minha vida já dela saíram.
           
Passaram anos desde que o meu avô morreu. Continuo na velha casa fabril. Continuo à procura de emprego. Continuo a não ter ninguém na minha vida, a não ser a minha avó, mãe e avô.

Tenho saudades deles. 

Ultimamente tenho ido ler para o banco do jardim. Ontem peguei num pau velho e misturei umas pétalas de cores diferentes, espetei outro pau mais pequeno e soprei a vela do meu bolo de aniversário. Depois fechei os olhos e cerrei os dentes. Deitei-me na cama. 

Acabou. Tudo tem um fim.
           

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