quarta-feira, 20 de abril de 2011

Tratado Sobre o Fim - Parte III

Quando o meu avô adoeceu éramos três a fazer visitas: eu, minha mãe e minha avó.

Minha avó era uma pessoa saudável, dona de casa, dedicada ao marido. Com o passar dos anos foi perdendo peso, acumulando cansaço e não resistiu. Perdeu a esperança. A doença começava a matar os entes saudáveis. A morte de minha avó foi um duro golpe para minha mãe. Davam apoio uma à outra, ajudavam-se e ajudavam o meu avô enquanto me criavam. Com a ausência de minha avó, minha mãe tinha de trabalhar para nos sustentar, criar um filho e aguentar toda a pressão do lar.

Engraçado como a frase anterior - quando descontextualizada - poderia ser entendida num sentido completamente diverso. É que - aqui -  lar não é um conceito bom por natureza, não é algo que relacionamos com a nossa casa, com a nossa família, com os nossos e com aquilo que é nosso. Bem antes pelo contrário.

As cenas no lar repetiam-se. (Minha mãe) Tinha de acompanhá-lo à fisioterapia. Tinha de ir às reuniões de pais. Não podia chegar tarde ao emprego. Entrou em depressão e não conseguiu sair de lá. Mais uns anos passaram e eu - com vinte e alguns - vi-me sozinho. Problemas cardíacos.

Dediquei-me ao meu avô.

Ele percebia o que se passava, via-se em seus olhos. As visitas, dantes repartidas por três, agora eram exclusivamente feitas por mim.

Tentei arranjar emprego, mas nada era compatível com o horário do meu avô. Havia sempre uma ida de ambulância para o hospital com falta de ar ou então um tratamento novo que podia aliviar as dores ou ainda um médico que tinha bons resultados na terapia da fala…

Começava a dar valor à minha mãe. Pena não o ter feito em sua vida.
          

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