Acabou.
Ele morreu. Tudo tem um fim.
O alívio apodera-se do meu corpo, percorre tudo o que há em mim.
Mas eu tinha de lá ir uma última vez, tentar enterrar aquele lugar e tudo o que me fez passar. Conheço cada canto, cada banco, sei onde e a que horas faz sombra no jardim.
Cheguei. Respiro fundo antes de sair do carro: é a última vez que aqui venho, prometo a mim mesmo. Ao longe já sinto aquela sensação de desespero, de tempo perdido, o cheiro a resignação. Mas em mim cresce agora outra coisa – nova.
Antes de entrar no edifício passo pelo jardim - murado e com grades brancas ao alto, as quais se assemelham a setas espetadas no chão. O jardim é um grande quadrado rasgado por um caminho em terra em forma de cruz, dividindo assim o grande quadrado em quatro quadradinhos. Em cada um deles há um canteiro - disposto em losango - com flores. Conheço-as a todas e todas elas me conhecem.
Sempre fui infantil. Lembro-me, à medida que passo, dos jogos que fazia no jardim: ou à espera da hora da visita ou a fazer um intervalo dela.
Sentava-me nos bancos em frente aos canteiros e escolhia uma pétala de uma flor: primeiro, uma cor forte – azul; depois, uma cor fraca – vermelho; misturava com um pouco de terra e umas folhas secas; mexia com um pau velho. Eu acreditava realmente (desconfiando da bondade de tal acção e simultaneamente querendo muito acreditar) que aquilo era a poção que o libertaria. E ali ficava uns minutos, calado, a fazer figas com toda a matéria com a qual é possível fazer figas, cerrando os dentes, de olhos fechados.
Percorria calmamente, com medo, os corredores para chegar ao seu quarto. Tinha medo da - aos olhos de hoje - idiotice mais uma vez não resultar. Tinha medo que algo acontecesse e que assim me tivesse tornado numa espécie de bruxo. Claro que nunca nada aconteceu. Foi nestes bancos que escrevi o meu primeiro poema.
Oh morte não venhas cedo que eu não quero morrer. Oh morte não venhas tarde que eu não quero sofrer.
Lembro-me de como tinha ficado bonito. Algumas letras saíram alaranjadas, uma vez que escrevi na terra com o tal pau velho das poções que ainda conservara algum do preparado na ponta.
Oh morte não venhas cedo que eu não quero morrer. Oh morte não venhas tarde que eu não quero sofrer.
Lembro-me de como tinha ficado bonito. Algumas letras saíram alaranjadas, uma vez que escrevi na terra com o tal pau velho das poções que ainda conservara algum do preparado na ponta.
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