sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Foi Deus Que Quis

Foi Deus que quis que eu fosse teu.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Viagem I

Era a algazarra do costume na sala dos meninos de oito anos. 

Os aviões de papel pareciam ondular ao som da gritaria uniforme, da qual, por vezes, se conseguiam apanhar bocados de conversas inconsequentes:

"Dou-te cinco pelo brilhante" ou o típico, mas não menos verdadeiro, "(...) senão vou fazer queixa à professora."

E, no meio de toda aquela confusão, a dita professora estava tranquilamente sentada na sua secretária, a qual ocupava o centro do estrado junto ao quadro de lousa. 

Momentos antes, os meninos tinham entregue a composição sobre "a família" que a professora exigira de "trabalho para casa". 

Havia, pois, que corrigir aquele amontoado de incorrecções gramaticais, erros ortográficos e faltas de concordância verbal que, supõe-se, deixariam qualquer um de cabelos em pé e a amaldiçoar o dia em que escolheram tão nobre profissão.

Qualquer um à excepção daquela professora.

A verdade é que, fruto do tempo, e também por força das suas próprias características pessoais - impessoalidade, distanciamento e espírito metódico -, a professora conseguia corrigir, naquele ambiente de batalha campal, uma por uma, todas as composições dos meninos.

E fazia-o ali como o faria em qualquer outro local ou ambiente: na paz da sua casa e na companhia solitária do seu gato ou na confusão alienada do recreio - desde que à sua disposição se encontrasse uma escrivaninha e uma caneta vermelha, a professora tinha tudo o que precisava para levar a cabo a sua meritória tarefa.

Não é então de estranhar que nem ela nem os meninos se tivessem apercebido da entrada na sala daquele vulto negro, ainda soluçante e carregado.

Era a mãe de Madalena.

sábado, 24 de setembro de 2011

A Flor II

Se não cuidares bem dela
ela seca.

Seca como uma flor.

Em casa de ferreiro não se como com as mãos,
usa-se o espeto que é de pau.

E se o gepeto é mau, então come-se com os pés, que a flor murcha também é uma flor.

Só não atrai mais as abelhas.

Esta era fácil de adivinhar, mas difícil era prever o momento.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Estatística

Lá vai ela, bela e formosa, a confiar nas estatísticas:

sete mortos por um tufão
na caixa negra de um avião
o mundo de pernas para o ar outra vez
com oito erros de gramática no português

Pena confundir a moda com a média
Baralhar a aritmética com a métrica
Descurar no pormenor
E tocar em fá maior

Grandes Pensadores Sociais dão orientações, eu não.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

O Contador de Histórias - Fim

Num rasgo de lucidez impossível para uma criança tão pequena, o menino sentiu a história do contador de histórias como se fosse a sua própria história e não aguentou esse sentimento dentro do seu também pequeno peito.

As lágrimas escorriam-lhe pela cara sem que as sentisse cair.

Correu o mais que pôde para o avô e, já abraçado, com a cabeça tombada no seu ombro, inquiriu: "Nunca me vais abandonar, pois não?"

O avô não respondeu.


Limitou-se a abraçá-lo com um pouquinho mais de força e a deslizar a sua mão do pescoço até o cocuruto da cabeça, acariciando-lhe, assim, os cabelos.

Foi o suficiente - é sempre suficiente.

sábado, 10 de setembro de 2011

Paradox

No dia em que lhe disseram que parece não ter defeitos, apontaram-lhe vários.

A vida é um paradoxo.

Resta a sensação de dever cumprido / comprido.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Os Dados Estão Lançados

Os dados estão lançados
E a sorte está nos pontos
Quantos mais pontos mais assombros
E a luz está ao fundo.

Salta, pequenina, salta
Para eu te ver.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sentir Falta

A pergunta que trepa as paredes do seu corpo é:

Será que o mundo sente a minha falta?