segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Prenda de Natal

Ele viu um relógio que gostou na publicidade de uma dessas revistas.

Inacreditável a avalanche de anúncios a bens de segunda (ou terceira) necessidade que poluem as televisões e revistas na época de Natal.

Mas ele, indiferente que é, por regra, às publicidades e ao Natal, apenas gostou do relógio.

Achou, por momentos, que o objecto - ou a simples posse do objecto - o faria sentir-se melhor.

Dirigiu-se à loja, identificou a peça e disse: Quero levar aquele.

A funcionária, muito solícita sob o olhar atento da patroa, diligenciou apressadamente no sentido de lhe entregar o relógio pronto a levar.

Explicados que foram os procedimentos de troca, prazo de garantia e remoção / substituição das pilhas, aos quais ele prestou a mínima atenção necessária, a dita funcionária perguntou-lhe se era para oferecer.

Ele, que nesse instante folheava desinteressadamente um pacato catálogo de relógios que havia sido deixado na mesa que o separava da funcionária, levantou os olhos, mirou-a bem de frente e, quase de um só fôlego, disse: Sim, se não causar muito transtorno.

A frase ainda não tinha sido dita até ao fim e já a funcionária, mediante apenas o sim, retirava o papel de embrulho alusivo ao Natal da gaveta para, de seguida, acto contínuo, embrulhar a caixa do relógio. E fê-lo com um cuidado e carinho extremos, como se o presente fosse para si ou para um dos seus.


Ele saiu da loja, dirigiu-se ao carro, conduziu, saiu do carro e entrou no escritório.

Já sentado na mesa de trabalho, tirou o embrulho do saco verde que carregara em todo aquele percurso e aí abriu a sua prenda de Natal.

Gostou e fica-lhe bem.

Jovial, diz ela.

Não sabe por que razão o fez, mas deve prender-se com o facto de sentir necessidade de (re)aprender a gostar do Natal.

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