sábado, 25 de dezembro de 2010

Conto de Natal (ou de Páscoa) - Prólogo

Prólogo

Deus existe e vê tudo e todos.

A frase é inteiramente verdadeira, necessitando apenas de esclarecimentos adicionais.

O céu, local situado em patamar superior ao da terra, é povoado por arcanjos e meros anjos e por Deus. Deus, tal como o homem, não fora este feito à sua imagem e semelhança, é humano e, portanto, necessita de se distrair e de descansar.  

Deus também dorme, caramba! Deus tem de dormir. E é por essas e por outras que alocou um grande grupo de habitantes celestiais, chefiado pelos mais belos arcanjos, ao controlo dos movimentos dos habitantes terrestres.

Sim, Deus está em toda a parte e tudo vê, mas também precisa de ajuda. Imaginem só o cansaço de tudo ver e ouvir e, depois de tudo ouvir e ver, discernir o que fazer, que decisões tomar, que medidas correctivas aplicar – compaginando tudo isto ainda com o cansaço provocado pela espuma dos dias. Deus é grande mas é um.

Assim, confinados num espaço sem delimitações físicas de qualquer espécie e no qual se ouvem continuamente harmoniosos e angélicos cantares (tipo canto gregoriano), encontram-se aqueles que tudo vêem. Os que tudo vêem têm por missão tudo ver e tudo escutar para depois, munidos de detalhados relatórios, esculpidos com letra comercial em alvas – lácteas mesmo – mármores, relatar superiormente as suas conclusões.

Ele – magnânimo que é – encontra sempre a solução mais justa para os casos e situações reportadas, mesmo para aquelas que à partida poderiam parecer indecifráveis para o comum dos mortais (mas também é isso que nos separa Dele), sinal de alguém que possui uma eternidade de sabedoria acumulada.   

E foi assim que, numa dessas lânguidas manhãs de Primavera, em que o sol penetra a custo por entre as nuvens altas que se amontoam no céu, Ele tomou a decisão mais importante das nossas vidas.

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