O pai permaneceu imóvel, tentando, sem sucesso, ancorar em sítio seguro a tormenta que trazia no peito.
Quando voltou a ganhar consciência - que é o mesmo que dizer: quando voltou a colocar os pés naquele chão -, voltou-se para seu filho e, com um pequeno fio de voz, disse: desculpa.
O menino não ouviu, mas decifrou nos lábios de seu pai a mensagem, a qual, atendendo ao cenário então criado, lhe transmitiu um sentimento apaziguador e familiar
Pena é que tivesse sido por tão pouco tempo.
Quando se voltou novamente, o pai iniciou marcha porta fora, não olhando para nada nem para ninguém, andando obstinadamente pelas ruas, passando a avenida, passando a praça, recolhendo dos transeuntes olhares de "olha-me este doido".
Sozinho e sem entender o que se passava e o que se estava prestes a passar, o menino correu - esbaforido - atrás do seu pai e, enquanto passou pela praça, a música que se ouvia do coreto captou, por instantes, a sua atenção. O som das bandas sempre o tinha fascinado.
À medida que se distanciava da praça, o fascínio perdia-se e a sua atenção concentrava-se em perseguir o seu pai. Na verdade, a certo ponto, já não pensava: deixava-se simplesmente levar por impulsos, daí ter estranhado quando sentiu o cheiro a maresia e areia nos sapatos.
:))
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