sábado, 6 de agosto de 2011

Contador de Histórias - Parte VIII

O pai permaneceu imóvel, tentando, sem sucesso, ancorar em sítio seguro a tormenta que trazia no peito. 

Quando voltou a ganhar consciência - que é o mesmo que dizer: quando voltou a colocar os pés naquele chão -, voltou-se para seu filho e, com um pequeno fio de voz, disse: desculpa.

O menino não ouviu, mas decifrou nos lábios de seu pai a mensagem, a qual, atendendo ao cenário então criado, lhe transmitiu um sentimento apaziguador e familiar

Pena é que tivesse sido por tão pouco tempo.

Quando se voltou novamente, o pai iniciou marcha porta fora, não olhando para nada nem para ninguém, andando obstinadamente pelas ruas, passando a avenida, passando a praça, recolhendo dos transeuntes olhares de "olha-me este doido".

Sozinho e sem entender o que se passava e o que se estava prestes a passar, o menino correu - esbaforido -  atrás do seu pai e, enquanto passou pela praça, a música que se ouvia do coreto captou, por instantes, a sua atenção. O som das bandas sempre o tinha fascinado.

À medida que se distanciava da praça, o fascínio perdia-se e a sua atenção concentrava-se em perseguir o seu pai. Na verdade, a certo ponto, já não pensava: deixava-se simplesmente levar por impulsos, daí ter estranhado quando sentiu o cheiro a maresia e areia nos sapatos.

1 comentário:

Viva. Está prestes a deixar o seu comentário em o Indieotta. Pense duas vezes antes de o fazer. Obrigado