sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Contador de Histórias - IX

O mar estava agitado e parecia reflectir o cinzento lamacento que ocupava o céu naquele dia. As ondas retumbavam violentamente contra as rochas e o vento uivava de acordo com o vaivém das marés. Sentia-se humidade no ar: aquela brisa molhada e salgada que por vezes nos toca a pele e nos deixa com saudades dos dias de calor e - também por isso - de felicidade.

O menino estranhou condições atmosféricas tão adversas como aquelas, tão distintas das que se faziam sentir no centro da cidade. A verdade é que o bafo denso e citadino e a frescura desconcertante da maresia estavam separados por apenas 25 minutos de caminhada.

Estes pensamentos percorreram a mente do menino por alguns momentos, muito poucos, quase como se fosse outra pessoa que não ele, mas dentro dele, a falar-lhe e reflectir em voz alta, ainda que só para ele, sobre o estado do tempo.

Quando recuperou o fôlego e se voltou a concentrar nas razões que o haviam levado até ali, o menino deu com o seu pai em cima do paredão que dividia a terra do mar, contemplando a imensidão de oceano a seus pés.

Quando se encontrava prestes a iniciar um movimento no sentido do paredão, o pai disse algo na direcção do menino que este não conseguiu decifrar e saltou para o vazio que, algumas dezenas de metros depois, terminava no oceano.

Saltou para nunca mais ser visto.

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