Ele não tem nome, porque aqueles que se dedicam a contar histórias não têm nome. Melhor, têm todos os nomes e nenhum nome. Têm os nomes dos homens e das mulheres cuja vida relatam nas suas histórias e, por isso, não têm nome.
Nunca ninguém quem saber a história do contador de histórias – o que interessa é aquilo que ele tem para contar e não aquilo que é ou foi. Aliás, se a sua história fosse assim tão interessante, o contador de histórias não o seria, seria antes um escritor ou, no máximo, um poeta.
Daí ele levantar-se todos os dias à mesma hora, no mesmo sítio. A cave do n.º 42 já não tinha segredos.
Não dorme bem nem mal, na medida em que, por um lado, a sua cama é sempre a mesma e, por outro lado, não se deita com a cabeça cheia. A história está aí, não é preciso inventar nada.
Mesmo sem luz, o que acontece amiúde, sobretudo no Inverno, por força do curto período de tempo em que a luz solar penetra pelas minúsculas janelas com grades, ele consegue vestir-se e encontrar o caminho de saída.
Por vezes, limita-se a seguir o cheiro a rua, que se distingue facilmente do bafio – com quem partilha a cave -, rumo à saída.
Invariavelmente, dia após dia, veste a mesma gabardine cinzenta e coçada, outrora bege, brilhante e de mulher.
Depois de comer o pão seco do dia anterior, tarefa essa extremamente penosa porque atentatória do bem-estar das suas gengivas, ele sai da cave à mesma hora, todo o santo dia, em direcção à praça.
No seu caminho para a praça poucos são os obstáculos que tem de ultrapassar. Em primeiro lugar, ele abandona a cave e sobe as escadas de aço que dão acesso à rua coberta de plátanos do prédio n.º 42; depois, vira à esquerda e continua pela rua de plátanos; no fim da rua, vira à esquerda pela avenida central; por fim, atravessa a rua e já está na praça.
Poderíamos afirmar, sem margem para dúvidas, o tempo exacto que demora a percorrer o caminho entre a sua cave e a praça, não fosse o facto de, pelo meio, ter de cruzar duas passadeiras com semáforos, circunstância que, dependendo da sorte, isto é, da cor ostentada pelos ditos aparelhos, faz alongar a jornada.
pugnando pelo preciosismo que tão bem me transmites, creio que se tratam, aqui de estórias e não de histórias.
ResponderEliminaràparte isso, 42 :)
how many roads...?
Seria forçado a concordar, não fosse eu já conhecer a história desta estória.
ResponderEliminarabaixo as assimetrias de informação.
ResponderEliminar