domingo, 26 de junho de 2011

Contador de Histórias - Parte IV

Era uma vez um pai que amava os seus dois filhos, o menino e a menina, como se desse amor dependesse o funcionamento de todas as coisas do universo.

Como os três viviam sozinhos no mundo, uma vez que a mãe morrera já há vários anos, tantos que os meninos nem lhe guardam a imagem, o pai conservava e concentrava em seus filhos todas as suas forças e vontades.

A partir da morte da mãe, a vida do pai passou a ser a educação dos seus meninos. 

Ao mesmo tempo que tentava esconder a miséria da vida, poupando-os aos sofrimentos de quem vive, o pai dedicava a sua vida a torná-los em tudo aquilo que ele, por uma razão ou por outra, não conseguiu ser: digno, honesto e merecedor de coisas boas.

O pai trabalhava muito - de dia, de noite, aos fins-de-semana, feriados, o pai não tirava férias de ser o pai que queria ser - e tudo quanto ganhava gastava na educação de seus filhos.

Mas os meninos cresceram e, de um dia para o outro, já não era preciso dinheiro para o infantário, passou a ser também para a escola e, no terceiro dia, para a música, para as línguas, para as artes…

O pai pensava que todas aquelas áreas se completavam e faziam parte de um todo complexo, sendo que, na ausência de alguma, a muralha que é a pessoa humana não teria outro destino senão a ruína, o ser incompleto e inacabado.

Acontece que o dinheiro que o pai ganhava começou a não ser suficiente, mas nunca lhe passou pela cabeça tirar os meninos de alguma daquelas actividades.

Então, na impossibilidade de se desdobrar em mais pais e sem soluções à vista, o pai começou a pedir dinheiro emprestado. 

E a quem? A quem não se deve pedir dinheiro emprestado: aos agiotas, aos cobarde que ganham a vida do infortúnio alheio.

De empréstimo em empréstimo, penhorando o seu futuro (e, para sua desgraça, o dos seus), o pai conseguiu levar a vida para a frente, empurrando-a com a barriga (que não tinha) e varrendo os problemas para debaixo do tapete (que também já havia sido vendido).

Mas, como em tudo na vida, o inevitável dia chegou.

3 comentários:

  1. Cara FOC,

    Não posso deixar de agradecer o incentivo, ainda que o atribua à generosidade que carrega no seu coração (NOT).

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  2. Hey q mauzão!

    Ganda facada neste coraçãozinho!

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