Entrou na sala.
A palidez despejada na cara da mãe de Madalena, como um farol nocturno guiando os barcos na escuridão baça do seu vestido negro, feria os olhos daqueles meninos.
A dita personagem ostentava, ainda, um xaile igualmente negro, ainda mais negro, muito trabalhado nas pontas.
A maioria dos meninos não reconheceram a mãe da Madalena de imediato.
A identidade do vulto foi sendo decifrada aos poucos, conforme as imagens surgiam desconexas naquelas imberbes cabeças, as imagens da mãe a deixar Madalena à porta da escola, do outro lado da rua.
E Madalena, como que carregando o peso do mundo em seus ombros, percorria os corredores até à sala dos meninos de oito anos, fixando invariavelmente seus olhos no chão - misto de areia do recreio e de pequenos fios de cotão.
- Posso falar-lhe? - disse sem sequer se apresentar ou apresentar uma saudação.
- Aqui? - inquiriu a medo a professora.
A mãe de Madalena levou levemente a mão direita ao nariz, esfregou a testa e tapou por instantes os seus olhos.
Quando voltou a abri-los já se encontrava a escassos centímetros da professora.
Aí, virando-se de costas para os meninos, e colocando a mão esquerda sobre a mesa da professora, agarrando-se ao tampo para não cair, inspirou fundo e, de um só fôlego, como se da última réstia de ar que os seus pulmões eram capazes de suster se tratasse, disse:
- O pai da Madalena morreu.
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