sábado, 9 de julho de 2011

Contador de Histórias - Parte VI

Como poderia escolher um dos filhos? Deveria ligar à polícia? E se eles levassem mesmo os dois meninos?
Tantas eram as perguntas e nenhumas as respostas que a sua cabeça rodopiava como um carrossel - brilhante e imparável. O pai foi obrigado a sentar-se tal era a náusea que atravessava a sua cabeça (e espírito).
De olhos fechados e já focando um ponto imaginário na sua cabeça, estabilizou as suas emoções, condensando no peito o amor pelos seus meninos. De seguida, num movimento contínuo, suave mas grave, o pai dirigiu-se ao quarto – uma pequena divisão com uma única cama.
Os meninos dormiam profundamente, alheados do mundo e mergulhados no cansaço que carregaram todo o dia até à cama. Confrontado com aquela imagem, o pai teve um momento de paz.
A menina era pequenina e ainda conversava em si sonhos de princesas e de reis. Antes de adormecer, o irmão contava-lhe histórias de mundos que não existem nem nunca existiram, mundos em que, no final do dia, os cavaleiros derrotam os dragões e casam com as donzelas. Assim era a menina e, por muito fantasioso que possa parecer, a sua cara reflectia a ingenuidade pura de quem tem sonhos.
O menino era mais crescido do que os outros meninos da sua idade. A verdade é que desde cedo se sentiu responsável pela sua irmã, tratando-a, em certas situações, como sua própria filha. Não que essa tarefa lhe tenha sido intencionalmente delegada pelo pai, mas a própria natureza dos meninos – a doçura e ingenuidade da menina; a bondade e sagacidade do menino – originou esta (não tão peculiar) relação familiar.
Não evitou derramar lágrimas quando viu a menina aninhada no colo do irmão e este com o braço protector à volta do seu pescoço.

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